Análise: Incertezas Fiscais e Potencial Aumento de Juros em 2024 Preocupam o Banco Central
Expectativas de Inflação e Falta de Ações Fiscais Eficazes Pressionam Decisões do Copom
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), foi discutida a possibilidade de aumentar a taxa Selic ainda neste ano, caso as expectativas de inflação continuem a subir devido à ausência de ações claras do governo para controlar os gastos públicos.
Com a falta de clareza nas políticas fiscais do Brasil, os diretores do Banco Central (BC) enfrentam o desafio de informar o mercado e o público sobre a necessidade de uma possível elevação dos juros para manter as expectativas de inflação sob controle. O comunicado do Copom, divulgado após a reunião de quarta-feira, 31, sugeriu que os membros estão prontos para ajustar a Selic se as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuarem a crescer.
Desde que o governo ajustou as metas fiscais para os próximos anos, as previsões de inflação têm aumentado quase semanalmente. Para 2024, a expectativa, de acordo com o Boletim Focus, é de 4,1%, e para 2025, 3,96%. A meta de inflação é de 3%, com um limite superior de 4,5%.
Além das mudanças nas metas fiscais, a atitude crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao BC e a minimização da necessidade de ajustes nas contas públicas têm impactado negativamente as expectativas do mercado.
De maneira geral, o mercado mostra ceticismo em relação à capacidade do governo de reduzir despesas, o que eleva o prêmio de risco exigido pelos investidores para financiar a dívida pública brasileira. Isso também contribui para o aumento do valor de ativos, como o dólar.
Possível Aumento da Selic
Nesse contexto, que não apresentou melhora desde a última reunião do Copom, os diretores do BC expressaram a possibilidade de aumentar os juros caso a situação econômica se agrave nos próximos meses. "O Comitê, por unanimidade, decidiu manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o contexto doméstico, marcado por resiliência na atividade econômica, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, exigem acompanhamento cuidadoso e ainda maior cautela", informou o BC.
É importante destacar que as surpresas positivas no emprego adicionam uma pressão adicional sobre os diretores do BC.
Novo Presidente do BC
Outro fator de incerteza é a escolha do próximo presidente do BC. Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, é o principal candidato para assumir a posição. Ele tem demonstrado publicamente um compromisso firme com o controle da inflação. No entanto, a principal resistência vem do presidente Lula, que adota uma postura ambígua sobre a necessidade de ajuste fiscal e combate à inflação.
Resta saber se o presidente Lula adotará um tom mais moderado ao anunciar o sucessor de Roberto Campos Neto ou se continuará sendo uma fonte de incerteza que dificulta a convergência da inflação para a meta. Enquanto isso, o BC indicou que um aumento dos juros é uma possibilidade nos próximos meses, caso o governo não mostre um compromisso claro com o controle das despesas públicas.
COMENTÁRIOS